A exposição “Sparks in Motion” apresenta a coleção Igor Queiroz Barroso


O colecionador e empresário cearense Igor Queiroz Barroso sonhava em ter uma parede repleta de obras de Alfredo Volpi (1896-1988), assim como seu tio Airton Queiroz tinha em seu ateliê.

“Nos dias de almoço da empresa, meu tio me fazia sentar em frente ao muro do Volpis. Isso me seduziu e pensei: ‘um dia vou ter uma parede assim’”, diz o colecionador em entrevista ao metrópole.

O sonho foi realizado com sucesso e parte dele está sendo compartilhado com o público na exposição “Centelhas em Movimento”, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, até o dia 9 de abril.

Hoje, Barroso não tem apenas Volpi em seu quadro de avisos. Em uma delas, ao lado do artista das famosas “bandeiras”, estão obras de Lygia Clark (1920–1988) e Sérgio Camargo (1930–1990). “Tenho tantos trabalhos maravilhosos para trabalhar ao lado de Volpi”, sublinha.

E ele tem. Seu acervo possui cerca de 400 obras de artistas como Victor Brecheret (1894–1955), Willys de Castro (1926–1988), Lygia Pape (1927–2004), Tarsila do Amaral (1886–1973), Anita Malfatti (1889–1964 ), Maria Martins (1894–1973).

Com a ajuda do curador Max Perlingeiro, ele escolheu 190 obras para compor a mostra. A mostra faz parte de um projeto do Instituto Tomie Ohtake Visit. “A ideia é visitar os repertórios da arte brasileira com múltiplos agentes”, explica o curador-chefe da instituição, Paulo Miyada.

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O projeto começa com a apresentação do acervo de Igor Queiroz Barroso, mas a proposta visa apresentar as trajetórias de críticos, galeristas e outras personalidades que atuam no sistema da arte.

“Nosso objetivo é mostrar que o que chamamos de história da arte não é algo acabado, escrito em pedra. É algo que resulta da ação de muitos agentes: uns trabalham mais pragmaticamente e outros processualmente”, acrescenta.

herança de família

Colecionar obras de arte é uma paixão da família de Igor Queiroz Barroso. Tudo começou com seus avós paternos, Parsifal e Olga Barroso, e seus avós maternos, Edson e Yolanda Vidal Queiroz. Seu tio Airton e sua mãe, Myra Eliane, continuaram o legado artístico da família. “A paixão do tio Airton era tão grande que me contaminou”, diz Barroso.

“No começo ele era como um professor. Depois que me apaixonei, ele me disse que eu era sua concorrente.

Competir com as coleções de sua família não é para os fracos de coração. O acervo de Airton Queiroz abriga obras de artistas brasileiros como Aleijadinho (1738–1814), Beatriz Milhazes, Volpi e de artistas estrangeiros, como Claude Monet (1840–1926), Salvador Dalí (1904–1989) e Joan Miró (1893–1983). ).

A coleção de Barroso centra-se na arte nacional. Para a mostra, ele escolheu as obras significativas da trajetória de cada artista selecionado. Para citar algumas: as esculturas “Ídolo” (1919) e “Cabeça de Mulato” (1934), de Victor Brecheret (1894–1955); a pintura “Índia e Mulata” (1934), de Cândido Portinari (1903–1962), animais de Lygia Clark; metaesquemi, de Hélio Oiticica (1927–1980); e uma escultura cinética de Abraham Palatnik (1928–2020).

Segundo Miyada, muitos dos trabalhos apresentados não eram exibidos há décadas e alguns ainda não estavam documentados em publicações. “Já imaginou ter essas obras na minha vida e não mostrar? Resolvi fazer uma exposição para homenagear a herança e a história da minha família”, conta.

Barroso tem outro tio muito ligado às artes: Sílvio Frota, um dos principais colecionadores de fotografia do país. Em 2017, Frota inaugurou o Museu da Fotografia, em Fortaleza, para abrigar seu acervo.

Segundo Miyada, Barroso entende, também pelos exemplos que tem na família, que colecionar não é uma tarefa que se reduza a um objetivo pessoal. “Reconhece que tem um papel que se materializa na divulgação e partilha pública do acervo”, explica Miyada

Vendo a montagem da exposição, o colecionador assume que sentiu que uma semente havia sido plantada. “Acredito que a arte ensina e educa. Existe a questão da beleza, mas através da arte você pode conhecer a história de um país”, destaca. “Talvez esta exposição seja a semente de um futuro museu?”