Investigação do Grupo Especial do Rio promete emoção: três escolas se destacam como favoritas em disputa equilibrada


Viradouro 2023 – Ismar Ingber/Riotur

Prepare o coração, porque chega – provavelmente – a enquete mais emocionante dos últimos anos no Carnaval do Rio de Janeiro. Após 12 desfiles, é seguro dizer que há pelo menos três escolas brigando pelo título na quarta-feira de cinzas (em ordem alfabética): Imperatriz, Vila Isabel e Viradouro. Há mais pessoas saindo correndo, mas o trio de segunda-feira surge com alguma vantagem.

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A Viradouro realizou o que o clichê carnavalesco chama de “desfile técnico”. Mas longe de ser sinônimo de monótono. A refinada makeover foi o destaque da apresentação, mas o desenvolvimento da história de Rosa Egipciaca merece destaque. Diante de um personagem complexo, a escola de Niterói soube fazer um recorte preciso para contar a história do “santo” antes escravizado. Trabalho da dupla Tarcísio Zanon, o desenhista do carnaval, e o contador de histórias João Gustavo Melo.

Ainda no contexto das tramas, a Imperatriz teve na história da saga de Lampião post mortem um de seus principais trunfos. As cantigas do cangaceiro em busca do descanso eterno, e rejeitadas ao inferno e ao paraíso, foram bem traduzidas em fantasias estéticas e alegorias com a assinatura de Leandro Vieira.

Imperatriz 2023
Imperatriz 2023 – Alex Ferro/Riotur

A Vila Isabel trouxe um Paulo Barros inspirado em fantasias e alegorias, sem abrir mão de algumas de suas marcas. Existia também uma rampa, desta vez utilizada para integrar todo o cortejo. A tessitura temática das festividades é de longe domínio do carnavalesco, que apareceu revigorado após o decepcionante desfile de 2022 pelo Paraíso do Tuiuti.

A escola de São Cristóvão, entre outras coisas, chegou em clima de “vitórias tranquilas” e pode arrebatar uma vaga no sábado da Champions. Pouco discutido no pré-carnaval, Tuiuti falou sobre a cultura paraense, Mestre Damasceno e búfalo-bumbá em apresentação de estética suntuosa assinada pelo casal carnavalesco Rosa Magalhães e João Vitor Araújo. Destaque também para a parte musical, com bateria e samba de Mestre Marcão, pouco notada na safra.

Passando para a parte sonora, a Mangueira deu vida à Sapucaí na manhã desta segunda-feira com um sambão sobre a bayanidade musical feminina. A bateria completou o trabalho e Manga fez um desfile para acordar os que estavam quase dormindo. Na parte plástica, a dupla Guilherme Estevão e Annik Salmon superou as dificuldades e entregou um trabalho seguro e preciso, com fácil leitura da trama. A única coisa que ele não perseguiu foi Green e Rose, que já estavam mortos. Corre lá fora, ao lado da Beija-Flor.

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A Escola de Nilópolis sofreu com problemas de evolução, mas conseguiu virar o jogo na defesa após um incêndio na abertura da ala. A água usada para apagar o fogo esfriou o ânimo quando o desfile começou, mas Deus da Passarela logo se recuperou e deu outra aula de canto e samba. Isso, aliás, foi gritado pelo povo da Baixada. A letra é o maior discurso direto do ano, traço da trama que reivindica como data da independência do Brasil 2 de julho de 1823 na Bahia.

Defendendo o título, o Grande Rio deu mais um show de plástico, agora com o enredo de Zeca Pagodinho. Destaque para o setor de desfiles sobre o universo infantil, inspirado na devoção do homenageado de Cosme e Damião. Vale ressaltar o padrão da trama: em vez de simplesmente mostrar Zeca, os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad traduziram o sambista em signos como chão de caquinhos e São Jorge. Funcionou muito bem. Não houve catarse e o samba não parecia entregar o que os fãs de ópera – verdureiros – esperavam. Mas o lugar no sábado é quase uma bagunça.

Vila Isabel 2023
Vila Isabel 2023 – Ismar Ingber/Riotur

Já a escola de samba foi uma das maiores decepções do Carnaval. A Portela, no ano do seu centenário, teve um desfile desarticulado, com problemas nas alegorias, o que causou um efeito cascata: evolução comprometida e buraco na pista. Para piorar, a peruca usada pela porta-bandeira Lucinha Nobre caiu durante uma das apresentações. Resultado: uma onda de tristeza toma conta da Sapucaí. Sambistas e sambistas reclamaram.

Willow, opulento, mas com um enredo difícil de entender, ainda deve brigar por uma vaga na Liga dos Campeões no sábado. Na Mocidade ele se divertiu com Mestre Vitalino, mas a harmonia do xoxa foi marcante – ele tem que brigar na parte do baixo.

O Império Serrano enfrentou a frieza da Sapucaí na abertura do especial de domingo, mas ainda rendeu muita emoção com uma homenagem a Arlindo Cruz. O desenvolvimento da trama, no entanto, foi o ponto fraco.

Grande Rio 2023 See More
Grande Rio 2023 – Alex Ferro/Riotur

Por fim, a Unidos da Tijuca sofria de problemas com alegorias, que eram pouco inspiradas. Um dos maiores criadores de enredos do Carnaval carioca, o bom contador de histórias Jack Vasconcelos, transformou-o em um desfile mais convencional. O destaque foi o painel frontal, o primeiro da história a utilizar a iluminação especial da Sapucaí dedicada à apresentação.

Vencedor e rebaixado serão conhecidos na próxima quarta-feira, 22, no cálculo na Praça da Apoteose.