Era como se o Expresso 2222 tivesse mudado de rumo, saindo de Bonsucesso para ligar o circuito Barra-Ondina com a Esplanada dos Ministérios. Na sala de comando do trem, um antigo maquinista e um novo: Gilberto Gil e Margareth Menezes, que, além da profissão, naturalidade, cor e titular do Ministério da Cultura em seu currículo, também dividiam a palco no sábado de carnaval (18).
Margareth iniciou a apresentação no Expresso 2222 por volta das 23h, quando o último trio a sair já havia virado para a Avenida Oceânica, migrando todos os olhares dos convidados da família Gil para o palco do palco instalado no Edifício Oceania. “Ministro, ministro”, saudou a plateia, citando a postura do baiano em janeiro deste ano.
Maga agradeceu e logo iniciou o show com dois de seus maiores sucessos, Elegibo e Faraó. Em seguida, Gilberto Gil subiu ao palco e imediatamente corrigiu o refrão inicial da plateia. “Agora digamos ‘ministra'”, brincou a apresentadora do box, citando linguagem neutra – apesar de Margareth, pelo menos publicamente, sempre se definir como mulher.
A primeira música de Gil, claro, foi Expresso 2222, seguida de outros sucessos, como “Toda Menina Baiana”. Seu show foi curto. Afinal, apesar de ser a estrela principal, a estrela da noite foi Margareth.
No camarim, as estrelas conversaram, assim como faziam antes de Margareth aceitar o cargo de ministra da Cultura. “Você acha que eu perderia a oportunidade de consultar Gil? Ele é sempre acolhedor. E se colocou à disposição, dizendo que está à disposição para o que eu precisar”, revela o ministro.
Gil foi ministro no primeiro governo Lula, entre 2003 e 2008. Experiente no cargo, assessorou o recém-chegado ao cargo. “Eu disse para ter calma, para ouvir bem. Para fazer as coisas de acordo com os sentimentos, mas com atenção a tudo. O Ministério da Cultura é um dos maiores do governo porque está em um país tão plural e tem várias pastas relacionadas “, diz Margarida.
Agora o desafio da baiana é conciliar a função de ministra com a carreira musical. Este ano, por exemplo, ele não desfilou em trio elétrico. O bloco “Mascarados”, tradicionalmente comandado por Margareth, passou a ser comandado por Larissa Luz.
“Essa ausência do Carnaval está me atrapalhando um pouco. Costumo trabalhar de novembro, dezembro, pensando na festa. Que saudade. No primeiro ano queria me poupar um pouco, quem sabe ano que vem fotografar um trio?”, ele pergunta.
Mas ela garante: sua postura no palco não vai mudar. “A música que eu canto, eu canto em todo lugar. Naquela época eu sou cantora. Sou ministra, mas a música é a minha vida. Posição é momento, coração é cantora”, define Maga.
O Correio Folia tem patrocínio da Clínica Delfin, apoio institucional da Prefeitura de Salvador e apoio da Jotgê e da AJL.