Nova regra tributária e reforma tributária ajudam a queda da Selic, dizem economistas


Qualquer queda nas taxas de juros brasileiras ocorrerá mais rapidamente se ocorrer uma conjunção de fatores nos próximos meses, incluindo a revelação de uma nova âncora fiscal crível para substituir o teto de gastos, reforma tributária consistente e indicadores de inflação dentro de uma margem. Cnn.

A discussão entre o governo e o Banco Central (CB) sobre o corte da Selic envolve tanto a visão de aceleração do crescimento econômico por parte do Executivo quanto o controle da inflação, objetivo da entidade independente. Mas, segundo especialistas, o esfriamento das tensões entre Lula e Campos Neto deve favorecer a queda dos juros neste final de ano.

“Sem termos de pressão política, acredito que se o governo entregar uma regra fiscal crível, por mais dura que seja, e ao mesmo tempo avançar na reforma tributária, acho muito provável que o Banco Central reduza a taxa [Selic] nas duas últimas reuniões do ano”, disse Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos.

Para o Espírito Santo, é preciso tentar conciliar os objetivos de colocar a inflação dentro da meta e o crescimento econômico do país, sem comprometer a ação do Banco Central contra a alta de preços.

“A harmonia entre as políticas econômicas é necessária para que o país avance. Portanto, os diálogos entre Haddad, Campos Neto e Tebet são cruciais para a concretização de uma agenda econômica sólida, já que são três integrantes do CMN [Conselho Monetário Nacional]. Este seria um cenário muito positivo, onde todos os objetivos seriam compreendidos e aprimorados para se chegar a conclusões”, enfatizou.

Para Flávio Conde, analista de ações da Levante Ideias de Investimentos, as tensões entre o presidente da república e o presidente do Banco Central sobre juros não são atípicas no Brasil e, de certa forma, “são discussões saudáveis” para a democracia.

Conde também acredita que, além de uma âncora tributária crível e do avanço da reforma tributária, o cenário ideal para o início da queda da Selic são as divulgações do IHPC que oscilam em torno de 0,3% e 0,4% ao ano.mês.

“Se temos três meses consecutivos do indicador nesse patamar, a parte técnica para a redução da Selic começa a ser viável. Mas se o indicador não chegar a esse patamar, não é recomendável a redução”, afirmou.

A troca de críticas entre o governo federal e o Banco Central não fez com que o Inter mudasse sua projeção para a taxa Selic – que, na projeção do banco, ainda tem espaço para começar a cair em agosto, com a inflação perdendo força rapidamente, e fechar 2023 em 12%. A taxa está atualmente em 13,75%.

O erro, na opinião da Câmara, foi inflamar a discussão antes de o governo apresentar a nova âncora fiscal, o que poderia dificultar a descompressão dos juros.

“O principal erro no debate é antecipar uma discussão sobre a meta de inflação antes da apresentação da nova paridade fiscal”, disse o Inter em relatório a clientes, assinado pela economista-chefe Rafaela Vitória.

As incertezas do cenário passaram a aumentar em relação à condução das políticas econômicas do governo, que, ao que tudo indica, devem ser mais expansionistas e manter a inflação mais alta no longo prazo, o que pode se traduzir em uma alta mais terminal da Selic.” ele conclui.

Copom x FOMC

Especialistas destacaram que o aumento da inflação e, consequentemente, dos juros, é um problema enfrentado globalmente, mas as particularidades do BC e do Fed dão contornos diferentes às discussões no Brasil e nos Estados Unidos.

“A Nos EUA a questão é diferente, pois o mandato do Fed especifica que ele deve controlar a inflação e pensar na atividade econômica e no emprego. Aqui o único objetivo do Banco Central é fazer com que a inflação atinja a meta”, explicou Flávio Conde.

O analista reiterou que o legado inflacionário “pesado” do Brasil justifica o papel exclusivo do BC no controle de preços, deixando ao Tesouro e aos respectivos ministérios da fazenda a tarefa de explorar o crescimento econômico do país.

A movimentação do Fed é acompanhada de perto pela equipe do banco central, tendo grande impacto na decisão do ente brasileiro em relação à sua política monetária, segundo economistas.

“O FOMC [equivalente ao Copom no Brasil] é dividido entre aqueles que são mais falcão e os que pensam mais no impacto na atividade econômica”, explica Alexandre Espírito Santo.

Hawkish é um termo usado para dizer que os membros compartilham uma visão mais dura sobre as taxas de juros, aumentos sucessivos até que a inflação esteja sob controle. Segundo o Espírito Santo, o limite de alta do Fed pode ditar o rumo das decisões de outros bancos centrais ao redor do mundo.

“Se o Fed parar a alta em 5,25% ao ano, tudo bem porque o mercado internacional começa a ver os emergentes como mais atrativos, porque o dólar está perdendo força e isso ajuda o Brasil”, explicou.

“Acho que esse é um cenário provável. O Fed anunciou duas altas de 25 pontos base e chegou perto de 5,25%, mantendo esse patamar elevado por um tempo”, finalizou.