As potências ocidentais e os principais países do mundo emergente têm visões completamente diferentes sobre a guerra na Ucrânia, que completa um ano nesta sexta-feira (24), e sobre a nova realidade geopolítica decorrente do conflito.
A diferença de percepções foi exposta em um estudo recentemente publicado pelo Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR), um ‘think tank’ sediado em várias capitais europeias.
O instituto comparou os sentimentos de cidadãos dos Estados Unidos, Reino Unido, nove países da União Europeia, China, Índia e Turquia sobre a guerra.
Primeira grande diferença: a maioria dos americanos, britânicos e europeus acha que é imperativo que a Ucrânia recupere todos os seus territórios, mesmo ao custo de uma guerra mais longa ou mais mortes no conflito.
Entre os mercados emergentes, o sentimento é o oposto. Indianos (54%), turcos (48%) e chineses (42%) preferem que a guerra termine o mais rápido possível, mesmo com a Ucrânia cedendo território à Rússia.
Segunda discrepância: a Rússia é vista principalmente como “rival” ou “adversária” por 77% no Reino Unido, 70% nos EUA e 65% na UE.
Essa opinião é majoritariamente minoritária nos países emergentes, onde o cenário muda. A Rússia é descrita como “aliada” ou “parceira necessária” por 80% na Índia, 79% na China e 69% na Turquia.
A pesquisa entrevistou 19.765 pessoas entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano, virtualmente ou pessoalmente, dependendo do país. Nove países da UE participaram da pesquisa (Alemanha, Dinamarca, Espanha, Estônia, França, Itália, Polônia, Portugal e Romênia).
Há uma terceira “queda” nas percepções: as razões pelas quais os EUA e a Europa ficaram do lado da Ucrânia na guerra.
Para americanos e europeus, trata-se principalmente de defender a democracia e a integridade territorial dos ucranianos. Para os orientais, a motivação é sobretudo a defesa da “dominação ocidental” e o medo de futuros ataques aos próprios países ocidentais.
Por fim, uma diferença sobre a nova ordem global que advém da guerra: americanos, britânicos e europeus acreditam que está surgindo um mundo bipolar, dividido em dois grandes blocos, um liderado pelos Estados Unidos e outro sob a influência da China. Já os países emergentes veem um cenário de multipolaridade, fragmentado, sem uma clara hegemonia dos Estados Unidos ou da China.
“As memórias da Guerra Fria definem como americanos e europeus veem o futuro”, diz um trecho do estudo. Em outras palavras, segundo o trabalho do ECFR, seria uma luta entre democracias e regimes autoritários. Fora das potências ocidentais, no entanto, a percepção é diferente.
“As grandes forças emergentes são vistas do lado do Ocidente em algumas questões, mas não em outras. Em contraste com os tempos da Guerra Fria, os principais parceiros comerciais de hoje muitas vezes não são os principais parceiros de segurança. Mesmo quando os países emergentes estão de acordo com o Ocidente, muitas vezes mantêm boas relações comerciais com a Rússia e a China”, acrescenta o estudo.
Então, nesse contexto, o Brasil é mencionado: “É isso também que o Brasil está fazendo: o presidente Lula fala a favor de manter a neutralidade do país em relação à Ucrânia e à Rússia, para evitar qualquer participação, mesmo indireta [na guerra]embora você aceite que a Rússia invadiu seu vizinho”.
Compartilhar: