O Pacto Ecológico Europeu, denominado Green Deal, é uma iniciativa da União Europeia e visa alterar as ações que atualmente contribuem para a emissão de gases com efeito de estufa, bem como transformar o modo de vida europeu. Como resultado, pode impactar países de outros continentes. Por exemplo, a agricultura brasileira pode sofrer com sua competitividade no cenário internacional.
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Entre os principais objetivos do Green Deal está a redução, até 2030, de pelo menos 55% das emissões de gases com efeito de estufa, face aos valores de 1990 no continente europeu. A ideia dos idealizadores do pacto é alcançar a neutralidade climática até 2050. Para tal, os países da União Europeia vão investir um bilião de euros para implementar estratégias como:
- Descarbonização do setor energético (que representa 75% das emissões na UE);
- Reabilitação de edifícios e edifícios com sistemas sustentáveis (os edifícios consomem 40% da energia do bloco);
- Incentivo para que as indústrias operem com economia verde (apenas 12% das indústrias utilizam materiais recicláveis na União Europeia); E
- Criação de novos transportes sustentáveis (os transportes representam 25% das emissões da UE).
Além disso, o acordo inclui 50 medidas para vários setoresS. Um deles, chamado da fazenda à mesa (da fazenda à mesa, em tradução livre), traz vários pontos que podem impactar a produção agrícola brasileira. Entre as ações propagadas pelo projeto estão:
- Produtos provenientes de áreas de desmatamento;
- Proibição de alguns pesticidas agrícolas;
- Redução de fertilizantes e aumento da fixação de nutrientes;
- Redução de antimicrobianos na pecuária;
- Redução das emissões de metano da pecuária; E
- Possibilidade de sobretaxa para produtos com “vazamento de carbono”.
Especialistas criticam as propostas do Green Deal
Foto: Pixabay
A diretora-superintendente da Think Brasil, empresa dedicada às relações institucionais e à chamada diplomacia corporativa, Silvia Fagnani contesta as pretensões do Green Deal. Segundo ela, alguns pontos não são bem explicados. Como no caso de cobrança de taxas múltiplas. Algo que pode encarecer os produtos brasileiros para os compradores europeus. “Não sabemos quanto vai ser essa sobretaxa, mas nosso produto pode ser mais caro lá [na UE] a ponto de não ser competitivo”, destaca o executivo.
O Brasil segue rígidas leis ambientais, que estão amplamente alinhadas com o Green Deal. No entanto, a lei não distingue, por exemplo, entre desmatamento legal e ilegal, conforme exigido pelo Código Florestal Brasileiro. Uma situação que preocupa o setor produtivo do país nesse sentido, sublinha o presidente da Associação Agroalimentar Brasileira (Abag), Caio Carvalho.
“Eles não passavam no meu vestibular ambiental e também dificuldade em passar em outros” – Caio Carvalho
“O Código Florestal Brasileiro é uma lei extremamente pesada se fosse usado na Europa”, diz Carvalho. “Eles não passavam no meu vestibular ambiental e também lutam para passar em outros”, continua a dirigente. “Entendo que o diálogo é fundamental”, acrescenta o representante da Abag.
Como provar o que é necessário?

Foto: Diego Baravelli/Minfra
Outra questão importante levantada pela indústria diz respeito à prova. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o país já cumpre muitas dessas medidas, mas o governo federal terá que se posicionar com as autoridades da União Européia sobre a legitimidade da validação. Portanto, poderia ajudar a não onerar ainda mais a fabricante brasileira.
“Qual será o impacto disso no custo de produção e no preço final dos alimentos?” — Sume Mori
“Não estamos interessados em cumprir os requisitos. Agora para comprovar esse custo, a certificação, toda a documentação que precisa ser feita. E o agro que exporta já atende a tudo isso. Teremos que ‘comprar’ outro?” pergunta Sueme Mori, diretora de relações internacionais da CNA. “Qual será o impacto disso no custo de produção e no preço final dos alimentos?”, questiona o diretor da CNA.
O Green Deal já é oficial, mas ainda está em discussão entre o bloco europeu e outros países. As medidas podem ser solicitadas pela União Europeia a qualquer momento. Por isso, entidades e especialistas do setor vêm buscando soluções para que o Brasil esteja preparado para os impactos do pacto no médio e longo prazos.
Relações comerciais do Brasil com a UE

Foto: FreePik
Em 2022, exportações brasileiras para a União Europeia movimentaram US$ 25,6 bilhões. Em receita, a soja lidera, com 34,5%. As oleaginosas são seguidas pelo café (17,5%) e silvicultura (12,8%). No entanto, as novas regras devem afetar o comércio do Brasil com o bloco.
“Cabe ao Brasil reagir de forma assertiva e objetiva, tentando contornar esse problema e trazer a Europa diretamente para o diálogo”, avalia o analista agroalimentar Carlos Cogo. “Isso vai facilitar o acordo entre a União Européia e o Mercosul”, continua o especialista.
A reportagem do Canal Rural entrou em contato com a Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária, mas até o momento não obteve resposta.
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Por: Anderson Scardoelli.
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Foto: Canal Rural/Play