Os danos econômicos de uma sociedade preconceituosa


Ricardo Zalcberg Angulo, escritor (@ricardozangulo)

O que torna um indivíduo diferente? Evidentemente existe um padrão estabelecido, uma norma, uma regra que separa o típico do atípico, os que podem dos que não podem, o normal do patológico. Observa-se que, como sociedade, antes de demonstrar qualquer humanidade, o ‘indivíduo coletivo’ está disposto a romper com o que é considerado diferente em uma espécie de desrespeito às heterogeneidades encontradas no mundo. Mas fica a pergunta: o que está por trás desse imaginário coletivo tão rápido em se segregar?

Quando um indivíduo é observado em seu ambiente, é possível identificar uma série de forças que condicionam seu comportamento. Entre elas estão as forças de estranhamento entre as pessoas, que podem ser representadas por rótulos ou preconceitos. Preconceitos que não necessariamente descrevem comportamentos típicos de indivíduos rotulados, mas reúnem fenômenos de múltiplos efeitos para resumir um ser humano sob um único nome. Por exemplo, não é incomum ouvir frases como: “Fulano faz isso porque é X” ou “Beltrano é Y, claro”; isolar comportamentos com um conjunto de nomes que satisfazem superficialmente o desejo classificatório humano de entender o seu entorno por meio de modelos unidimensionais simplificados. Tais denominações, como se sabe, podem variar desde rótulos políticos, como indivíduo de “direita” e “esquerda”, ou, ainda, na forma de classificações menos dicotômicas, mas igualmente nocivas à convivência, como as relativas à saúde mental, diagnóstico, aparência física, etnia, orientação sexual, religião, nacionalidade, classe social… Entendemos que essas classificações são ferramentas que permitem o discernimento entre as pessoas, mas por que elas são tão intrínsecas e causam tanta dor?

Precisamos dar mais um passo para trás. Qual é o mecanismo de viés? É uma questão complexa, com múltiplas facetas e raízes profundas. Mas é possível pensar que os preconceitos ou classificações têm algumas características em comum que predispõem uma atitude negativa em relação ao “diferente”: (i) são criações humanas e não fenômenos naturais, (ii) são imposições externas ao indivíduo e não resoluções pessoais e (iii) só fazem sentido em sociedade; melhor, apenas faça sentido nissosociedade. E, para percebê-lo com clareza, é preciso fazer um simples exercício de abstração. Imagine uma sociedade isolada, formada exclusivamente por indivíduos caracterizados como “diferentes”. Por exemplo, uma sociedade formada apenas por pessoas com algum tipo de deformidade. Para sua imaginação, quem quer que se deparasse com medo e hostilidade seria o “normal” na sociedade externa. Ou seja, essa relativização importa e mostra que o preconceito supera o substrato biológico e o instinto animal – por isso há uma certa pureza na interação entre as crianças.

O argumento de haver uma expansão das políticas públicas que visassem igualar as possibilidades de todos os cidadãos é o mais intuitivo e as pessoas parecem aceitá-lo. No entanto, também parecem contentar-se em manter a solução no reino da imaginação, quando se trata de uma causa meramente humanitária e equitativa.

Por mais difícil que seja imaginar um indivíduo que não acredite que a inclusão seja do interesse de todos, existe o argumento econômico. Uma sociedade excludente é aquela que perde o potencial de cada um de seus indivíduos, pois quando se luta contra o ostracismo, dificilmente se tem tempo para inovação e criatividade e, portanto, para maior produtividade e competitividade.

Um contexto inclusivo amplia o leque de possibilidades para todos os habitantes, bem como as opções do coletivo, ao fazer com que indivíduos mais qualificados esgotem suas oportunidades. O mais significativo, porém, é a redução de custos: uma sociedade inclusiva não precisa lidar com milhares de processos judiciais preconceituosos e, com maiores oportunidades para o indivíduo, também diminuem as tentações de seguir carreira no crime.

Uma sociedade livre de preconceitos é menos propensa a desconfianças e ódios infundados ou discriminatórios. Se há busca de prosperidade e estabilidade, ela deve começar com a inclusão dos marginalizados.

 

Parada Gay Contra o Preconceito Divulgação/Agência Brasil