A cozinheira Zuleide Pereira Alves, 38, escapou da enchente de lama que destruiu sua casa com um bebê de 7 dias, o marido e mais dois filhos. Ele morava no bairro Topolândia, no Morro do Juramento, em São Sebastião. Por volta da meia-noite de domingo (19), Zuleide ouviu um estrondo, que presumiu ser um trovão.
“Aí tudo começou a piorar, a lama levou uma parte da casa, uma geladeira, um fogão, um botijão de gás”, conta. Ela só conseguiu pegar a bolsa do bebê. Cada uma das crianças guardou um suéter. “Ele estava desesperado.”
A família se refugiou na casa de um vizinho, que disseram ser mais acima no morro, e esperou a noite toda por ajuda. Os moradores da comunidade alertaram os vizinhos para também deixarem suas casas e, ao amanhecer, eles desceram o morro.
“O medo era que a gente caísse e a lama pegasse, dava na cintura. Um poste de luz estava se curvando, quase tomando água. Na segunda-feira (20), Zuleide e a pequena Rhilary Vitória, nascida no dia 12, foram acolhidas em uma escola municipal de São Sebastião com outras 30 pessoas.
De acordo com a secretária municipal de educação, Marta Braz, outras nove escolas funcionam como abrigos e recebem doações. A que mais acolheu sem-teto foi a Barra do Sahy, por onde passaram cerca de 500 pessoas à noite. Esta praia também registrou o maior número de mortes.
“Minha maior preocupação era ela”, diz Zuleide sobre a menina, seu sexto filho. “Não conseguimos salvar nada.” Ela disse que nunca mais voltou para sua casa, onde viveu quase toda a sua vida. “Agora é a hora de segurar a mão de Deus e ver o que está por vir.”
sem fralda
A ajudante de cozinha Júlia Amaral, 26, também tem um filho de pouco mais de 1 ano e está ficando na escola por medo de voltar para sua casa no mesmo morro.
“Vim buscar uma fralda para minha filha porque ficou tudo em casa”, disse. A escola recebeu água, alimentos, fraldas de moradores e empresários locais.
Outros moradores de Topolândia também disseram que esperaram por socorro na noite de sábado e não foram socorridos. Fabio da Silva Ferreira, 26, disse que foi a comunidade que alertou as famílias para saírem de casa. “Não teve sirene, ninguém bateu na porta para avisar, acho que foi descuido”, disse.
Ferreira também perdeu tudo no deslizamento e diz que desde 2016 as casas estão em perigo. “Essa ajuda que eles estão dando agora é o mínimo que eles podem fazer.”
Segundo o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), a prefeitura “já havia feito todos os alertas com a Proteção Civil” quando as fortes chuvas começaram no sábado.
“O que não se esperava era a densidade dessas chuvas, que passaram de 600 milímetros”, disse ele em discurso no Theatro Municipal, que também contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governador Tarcísio de Freitas.
Segundo ele, a primeira equipe da prefeitura foi ao bairro de Topolândia no domingo, às 5h da manhã. “E a partir daí começamos a perceber a dimensão da tragédia que se abateu sobre o nosso Município”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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