PIB na avenida: Hotelaria em Salvador rendeu em dez dias igual a 11% do ano todo


Desde a última quinta-feira, os hotéis de Salvador registram taxa média de ocupação de 95%, com os estabelecimentos instalados próximos aos circuitos carnavalescos chegando a 100%. Mas não só aumentou o número de pessoas nas fábricas, como também aumentou a lucratividade. Nos últimos 10 dias, o setor faturou 11% do previsto para o ano, estima Luciano Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-BA), filial da Bahia.

Numa cidade que faz da economia criativa a sua principal fonte de rendimento, a deslocação dos visitantes aos meios de alojamento é apenas um dos termómetros de que a maior festa de rua do mundo voltou com todo o seu potencial. O número de pessoas transportadas para locais de festas cresceu 30% em relação ao mesmo período de 2020, último carnaval antes da pandemia, segundo dados da prefeitura de Salvador.

Levando em consideração apenas as pessoas que utilizaram transporte público regulamentado pelo município, foram quase 400 mil pessoas em um único dia, sem contar as milhares que utilizaram transporte via aplicativos, carro próprio ou simplesmente estavam próximas o suficiente para caminhar.

“É fato que tivemos um registro público de toda a história do Carnaval, tanto nos bairros, onde houve grande presença popular, quanto em todos os circuitos”, avaliou o prefeito Bruno Reis no último sábado.

A expectativa era de uma movimentação econômica de R$ 2,4 bilhões na economia baiana com a festa, segundo projeção da Fecomércio-Ba. A instituição espera que o destaque seja dado às atividades turísticas, que devem responder por R$ 1,39 bilhão desse total, com gastos nas mais diversas estruturas, como meios de hospedagem, bares e restaurantes, transporte, entre outros. Segundo dados do IBGE, o turismo cresceu 26% no período de janeiro a novembro do ano passado na Bahia. Em todo o país, a expectativa é de movimentação de R$ 8,18 bilhões no Carnaval deste ano.

O presidente da ABIH-BA, Luciano Lopes, explica que o período do Carnaval tem um duplo efeito positivo nas atividades relacionadas ao turismo. Além dos hotéis estarem absolutamente cheios, as tarifas são mais altas, o que aumenta a lucratividade dos estabelecimentos. “Para se ter uma ideia, os últimos 10 dias representam 11% do faturamento anual do setor”, afirma. Além disso, acrescenta, a exposição que a cidade recebe durante o festival gera expectativa para novos visitantes.

“O carnaval gera uma exposição midiática muito grande, tem muita gente que assiste. É uma mídia espontânea muito grande, que tem uma força publicitária ainda maior que a paga”, analisa. “Claro que além dos loops de transmissão, os veículos de comunicação também mostram a cidade, o que desperta nas pessoas a vontade de conhecer Salvador”, acredita.

Embora ainda não tenha dados consolidados do setor, Luciano Lopes comemora na festa a recuperação do mercado internacional. “Passamos quase três anos com restrições e agora podemos ver o retorno dos turistas estrangeiros. Ainda não saiu uma pesquisa, mas já podemos ver esse aumento no fluxo, basta olhar para os saguões dos hotéis”, diz.

Além de beneficiar as estruturas hoteleiras próximas ao circuito, o Carnaval também deslocou as mais distantes, acrescenta Luciano Lopes. Como exemplo, ele cita as opções de hospedagem da Prima Empreendimentos, da qual é diretor, em Baixio, na Costa dos Coqueiros. “Temos 100% de ocupação lá. O carnaval é uma exceção, atrai quem gosta de festa, mas também tem turista que não gosta e procura um lugar para descansar”, explica. “Temos o Hotel Ponta de Inhambupe e a Pousada Aldeola que estão com 100% de ocupação”, diz.

“O carnaval está de volta na cabeça das pessoas. Todos estavam ansiosos para se divertir e se divertir. Isso é muito bom porque esta época é o nosso 13º salário”, enfatiza Silvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Fehba). Segundo ele, nem o aumento de 56% no preço das passagens aéreas este ano conseguiu abalar o setor. “Os bares e restaurantes estão cheios, tem muita gente contratada como figurante. O turismo mobiliza mais de 50 negócios. Somos o maior empregador do estado depois da agricultura e respondemos por 25% do PIB (Produto Interno Bruto) da nossa cidade “, sublinha o dirigente.

O Grupo Leceres, que adquiriu recentemente a GJP Hotels & Resorts, teve uma taxa média de ocupação de 87% durante o Carnaval, nos 10 hotéis da cadeia. No Wish Hotel da Bahia, em especial, a ocupação no período foi de 94%.

A diária média de Salvador cresceu 90% desde o Carnaval 2020, o maior da rede, superando Rio de Janeiro (58%) e Natal (52%).

Na unidade da capital baiana, uma das melhores para quem gosta de festa, os convidados foram recepcionados no check-in com welcome drink, fanfarra e pintura corporal, e puderam curtir DJ à beira da piscina, quiosque com espetinhos , acarajés, picolés e drinks de quinta a terça. O hotel também oferece customização de abadás, venda de acessórios, salão de beleza com maquiagem e penteados.

O empresário Clinio Bastos, vice-presidente da Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape), diz que os resultados deste ano foram uma grata surpresa, pois o setor de eventos demorou mais do que outros para reagir aos impactos negativos da pandemia. “Sempre acabamos repetindo uma frase em relação aos momentos de crise, somos os primeiros a ouvir e os últimos a voltar”, reflete Bastos, que também é diretor de marketing da Empresa Camarote, no comando do Planeta Band.

“Nossa recuperação tem sido gradual. Até o final do ano os números não chegavam nem perto dos de 2019 e 2020 e isso nos preocupava muito. Sabíamos que havia uma demanda reprimida muito forte. As pessoas pretendiam comemorar o vida, mas nada disso foi confirmado pelos números”, diz ele. Bastos acredita que a dificuldade pode estar relacionada à Copa do Mundo, que aconteceu no final do ano passado e acabou atraindo o interesse tanto de patrocinadores quanto do público.

O cenário começou a mudar no início de janeiro, quando houve uma aceleração na captação de patrocínios e na procura de espaços pelos foliões, conta. “Na história do planeta, nunca tínhamos esgotado todos os dias. Será a primeira vez”, calculou o empresário, que só tinha as últimas 32 camisas disponíveis ontem, às 14h25.

“Em 21 anos de Planeta, com 19 edições, não me lembro de um pedido tão grande como este Carnaval. E também nas ruas, até nas outras barracas. Acho que terminamos este Carnaval felizes, primeiro porque sobrevivemos”, ele avalia.

Nos 45 dias entre montagem do espaço, realização da festa e desmobilização, 1.500 profissionais trabalham no planeta. De Médicos a Auxiliares de Enfermagem, Engenheiros, Comunicações, Arquitetos, Limpeza, Segurança, listas de Bastos. E durante os seis dias, quase 35.000 pessoas passaram. “É uma pequena cidade europeia. Isso é um grande negócio”, compara.

“As pessoas não têm noção do peso dos serviços no Brasil. São 25% dos empregos gerados no país pós-pandemia. O carnaval é o maior símbolo aqui, mas Salvador e Bahia têm vocação para o serviço”, acredita.

O empresário Paulo Góes, sócio da Premium Entretenimento, empresa que promove o Camarote Salvador, falou sobre a volta do espaço. “O Carnaval da Bahia surpreende cada vez mais. Já são quase três anos, estamos há dois sem que aconteça e o público está mostrando a força que é essa alegria, um ícone mundial”, comemorou.

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