As taxas de juros estão no centro do debate econômico. O mais recente impulso à questão foi dado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que passou a criticar com frequência a Selic de 13,75%, bem como a independência do Banco Central (CB) e a atuação autárquica do presidente, sobrinho de Roberto Campos.
O patamar de 13,75% foi fixado na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em 3 de agosto, quando aumentou 0,5 ponto percentual. Desde então, o grupo manteve esse patamar, o mais alto desde dezembro de 2016, mas indicando que pode haver mais alta dependendo do cenário inflacionário.
Mas entre janeiro de 2020 e março de 2021, a taxa foi de 2% ao ano.
A escala de taxas de juros não é exclusiva do Brasil. Com um cenário global de pressão inflacionária após o período de pandemia seguido da guerra entre Rússia e Ucrânia, as autoridades monetárias se veem obrigadas a elevar os juros como ferramenta para tentar conter a alta dos preços.
Nos Estados Unidos, a taxa de juros aumentou sistematicamente desde janeiro de 2022. O Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, elevou as taxas de juros do país pela última vez em 1º de fevereiro para um intervalo entre 4,5% e 4,75% – alta de 0,25 pontos percentuais . Tudo indica que deve continuar a aumentar – ainda não se sabe até que ponto – nas próximas reuniões do FOMC, o comitê de política monetária do Fed.
Na Europa o cenário se repete. O Banco Central Europeu (BCE) aumentou as taxas de juros em um ritmo recorde para eles. O banco central dos 20 países que compartilham o euro elevou a taxa de depósito bancário em mais 0,5 ponto percentual para 2,5%. O instituto também especificou que o próximo aumento da taxa será da mesma magnitude.
Juros mais altos visam controlar a inflação, mas acabam trazendo outras consequências. Entre eles, levam os investidores à renda fixa.
Fabio Fares, especialista em Análise Macro da Quantzed, explica que juros altos significam maior custo de captação. “Nesse cenário, você precisa ter um prêmio de risco maior para que a aposta valha a pena. Seja o governo brasileiro ou o governo americano, se eles estão pagando juros altos, o investidor terá um retorno melhor se deixar o dinheiro aplicado em títulos de dívida dos países.
Fares mostra que quanto maiores as taxas de juros, maior o spread entre o risco de investir em renda fixa e o mercado de ações. “Por que eu deveria arriscar na bolsa se o governo paga 13,75% aqui no Brasil e me paga 4,75% nos EUA? Além disso, a renda variável não tem garantia de retorno. Então, quanto mais altas as taxas de juros, mais estimulado pelo aluguel.”
Segundo Sandro Maskio, professor de economia da Strong Business School, no cenário de juros norte-americanos o dólar, como moeda com maior conversibilidade internacional e menor risco, torna mais atraentes as aplicações financeiras em títulos da dívida pública norte-americana.
“O mundo vive o desafio de conter o aumento dos preços. Isso pressiona outros países a aumentarem as taxas básicas de juros para implementar a política monetária. Quanto mais se deteriora a condição fiscal do país e quanto maior o grau de risco dos investimentos em títulos da dívida pública, maior é essa pressão”, destaca Maskio.
“Com a elevação da taxa básica de juros, observada em diversos países do mundo, os investimentos em títulos de renda fixa — como títulos públicos — tornam-se mais atrativos e com menor risco, em relação a outras opções, em especial renda variável títulos. , como ações”. Explicar.
Veja na tabela abaixo um exemplo de como fica o retorno quando são investidos R$ 1.000 com juros de 2% e 13,75%:
Consequências
Os principais investimentos impactados negativamente pelas altas taxas de juros nos dois países são empresas em crescimento, aponta Fares. “As empresas de tecnologia, que dependem de muito capital para administrar todo o setor de bolsa de valores, onde a empresa precisa se autofinanciar para crescer, sentem-se negativamente refletidas por esses interesses. Quero dizer, é muito mais caro para esta empresa se financiar.”
Por outro lado, Maskio mostra que os fundos acertados positivamente, aos olhos dos poupadores que buscam opções para a alocação de seus recursos financeiros, possuem títulos de renda fixa, atrelados à taxa básica de juros, acrescidos de um prêmio, como algumas opções atualmente negociadas no Tesouro Direto.
“Um ponto fundamental no qual todo poupador deve focar é a lucratividade real. O ganho efetivo de uma demanda financeira ocorre quando o ganho nominal (taxa de juros nominal) supera a inflação do período”, especifica o professor.
investimentos
A título de exemplo, Maskio destaca que hoje existem títulos públicos no Brasil, negociados no Tesouro Direto, que pagam a variação do IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – mais um percentual adicional ao ano, e pré-fixados, reduzindo o risco .
“Os novos títulos emitidos pela Confederação e negociados no Tesouro Direto, como o Tesouro RendA+, voltado para a preparação do poupador para a aposentadoria, têm essa característica”, mostra.
Fares sugere investimentos oferecidos por grandes bancos, como títulos de renda fixa emitidos por eles com notas pós-fixadas, CDBs, entre outros, que pagam juros de 13,75%, ou até mais que a taxa Selic.
Segundo ele, os investidores podem encontrar boas LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) e LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) de bons emissores. “Hoje a Caixa Econômica Federal emite títulos que pagam 96% do CDI, ou seja, mais de 110% do CDI. Isso é bom porque esses títulos são isentos de impostos”.
Das que existem nos Estados Unidos, Feres indica títulos e ETFs de títulos do governo americano, além da parte de crédito privado. “Existe uma gama de títulos corporativos, títulos, que são ainda mais seguros que o governo dos EUA, como Apple, Google, Microsoft. Se o investidor vê grandes empresas pagando juros de 4%, 4,5%, 5% e até 6% por dois, três, cinco anos, são investimentos extremamente atrativos”, conclui.
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